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domingo, 16 de junho de 2013

Aprendendo sobre ESPERANTO


C
aros amigos,

compartilhamos hoje esta matéria muito interessante que a revista Reformador publicou em 1999.

Você conhece o Esperanto? Sabe quais objetivos que esta língua internacional foi criada? Conhece sua origem?

Convidamos à todos a conhecer e estudar esta importante contribuição de Zamenhof à humanidade que a Doutrina Espírita também valoriza e divulga.

Vamos aos estudos?


CARTAS DE ZAMENHOF

AFFONSO SOARES

Dentre a copiosa produção de Lázaro Luís Zamenhof, desde quando ofereceu o Esperanto ao mundo, um elemento, embora mais modesto e despretencioso na forma, avulta e se ombreia com as traduções, manuais, dicionários, discursos, poemas e teses, seja por se constituir em fonte rica de subsídios para a história do movimento esperantista, seja por retratar a personalidade inegavelmente superior do gênio de Bialistok.

Referimo-nos ao espistolário, carinhosamente conservado por centenas de adeptos e hoje publicado em sua maior parte.

            Ali temos Zamenhof por inteiro, evidenciando seu caráter superior impregnado das virtudes da paciência, da tolerância, da indulgência, da fraternidade, da prudência, do bom senso, tanto no trato de assuntos rotineiros e prosaicos, como na condução de delicadas questões, de que um frisante exemplo foram as palavras e os sentimentos com que reagiu a uma grave traição à sua confiança por parte de um adepto infeliz e invigilante que, não obstante, recebeu de Zamenhof os mais fraternos conselhos, o mais sincero perdão.

            De tão expressivo repositório escolhemos trechos de duas cartas com particular significado para a história do Esperanto; a dirigida em 1895 ao pioneiro russo, jornalista e professor, Nikolaj Afrikanovic Borovko (1863-1913), e a que enviou, em 1905, ao advogado francês, igualmente pioneiro esperantista, Alfred Michaux (1859-1937), organizador do 1º Congresso Universal de Esperanto naquele mesmo ano.

Ambas nascem do interesse em fixar, para a posteridade, sobre o depoimento do próprio criador do Esperanto, fatos fundamentais ligados aos primórdios da causa. São documentos longos, mas nos limitaremos aos trechos que atendam nosso objetivo de focalizar o interior da invulgar figura de Zamenhof, os nobres impulsos que governaram sua aspirações.

Eis alguns trechos da carta a N. Borovko:

“(...) Você me pergunta como surgiu em mim a idéia da criação de uma língua internacional. (...) a idéia, a cuja concretização dediquei toda a minha vida, surgiu-me – é ridículo dizê-lo – na mais tenra infância, e de la para cá nunca mais me abandonou; vivi com ela e não posso imaginar-me sem ela.

(...) Nasci em Bialistok, província de Grodno. Essa localidade, onde vim ao mundo e passei a infância, deu direção a todas as minhas aspirações. Em Bialistok, a população é formada por quatro elementos: russos, poloneses, alemães e judeus, os quais falam línguas diferentes e se relacionam de maneira inamistosa. Nessa cidade, mais do que em qualquer outro lugar, uma natureza impressionável sente a esmagadora desgraça da diversidade lingüística, e a cada passo se convence de que nela está a única, senão a principal causa da separação da família humana e de sua divisão em facções inimigas. Educaram-me como um idealista; ensinaram-me que todos os homens são irmãos, mas tanto na rua como nos pátios, a cada passo, tudo me fazia sentir que não existiam seres humanos: só havia russos, poloneses, alemães, judeus, etc. Isso era um enorme tormento para minha alma infantil, embora muitos venham a rir desse “sofrimento pelo mundo” numa criança.

(...) No ano de 1878 a língua já estava mais ou menos pronta, embora ainda houvesse grande diferença entre a “lingwe universala” de então e atual Esperanto.

Comuniquei o fato a meus colegas (então eu cursava a 8ª série do ginásio). A maioria, atraída pela idéia e impressionada pela invulgar facilidade da língua, começou a estudá-la, e em 5 de dezembro de 1878 festejamos solenemente a sua consagração. Houve discursos no novo idioma e cantamos com  entusiasmo o hino, cujos versos iniciais eram:

“Malamikete de las nacjes

Kadó, kadó, jam temp’ está!

La tot’ homoze infamilje

Konunigare so debá.” 1


(No atual Esperanto isso significa: “Inimizade entre as nações, caia, caia, já é tempo! A Humanidade inteira deve unir-se em uma família”) 2

(...) Havendo concluído a Universidade, comecei a prática médica já pensando em sair a público com o meu trabalho. Preparei o manuscrito de minha primeira brochura (“Dr. Esperanto. Língua Internacional. Prefácio e manual completo”) e parti em procura de um editor. Foi a primeira vez em que me deparei com o amargo lado prático da vida, a questão financeira, com a qual eu posteriormente deveria, e ainda devo, sustentar renhida luta. Durante dois anos procurei em vão um editor. Quando achei, ele levou metade de um ano preparando a edição da brochura para, no fim, recusá-la. Afinal, depois de prolongados esforços, consegui, eu mesmo, editá-la em julho de 1887. (...) Eu sabia da sorte que aguardava um médico, dependente do público, se esse público enxergasse nele um visionário, uma pessoa que se ocupa com “assuntos marginais”, eu tinha o sentimento de que arriscava toda a minha tranqüilidade futura, minha existência e a existência de minha família; mas já não podia abandonar a idéia que havia penetrado meu corpo e meu sangue... e atravessei o Rubicão”. 3

            A carta a Michaux só ficou conhecida do público em 1945. Grande é a sua importância para que tenhamos a dimensão exata da grandeza de Zamenhof, um judeu dividido entre dois ideais: o do patriota, em busca de um caminho para amenizar os terríveis sofrimentos dos judeus no mundo, e o do homem universal que aspirava à união da Humanidade por meio de um fundamento neutro, por sobre todas as fronteiras materiais e espirituais, como uma grande família.

            Venceu nele o ideal universalista, e certamente por ele Zamenhof foi, tem sido e será sempre mais útil à sua raça do que pelos ideais particularistas.

            Eis alguns trechos da carta a Michaux:

(...) Direi simplesmente que minha condição de judeu foi o principal motivo pelo qual, desde a mais tenra infância, me dediquei inteiramente a uma idéia principal, a um sonho: - unir a Humanidade.

(...) o Esperanto é apenas parte dessa idéia, e sobre o conjunto não deixo de pensar e sonhar; mais cedo ou mais tarde (talvez muito breve), quando o Esperanto não mais precisar de mim, sairei com um plano para o qual me preparo há muito tempo e sobre o qual talvez lhe escreva mais tarde. Esse plano (a que chamo “Hilelismo”) 4 consiste na criação de uma ponte moral que permita a união fraternal de todos os povos e religiões, sem que se criem novos dogmas e sem a necessidade de que os povos abandonem suas atuais religiões.

(...) Quis apenas dizer-lhe que embora em mim, desde a mais tenra infância, sempre prevalecesse o “homem”, entretanto, em virtude da desgraçada situação de meu povo, despertava no íntimo o “patriota”, em terrível batalha contra o “homem”. Nos últimos anos, o “homem” e o “patriota” pouco a pouco se reconciliaram sob a forma do “Hilelismo”.


Finalizemos, refletindo na amorosa e autorizada palavra do Espírito Emmanuel, um dos integrantes da legião espiritual que serve ao Cristo de Deus na educação das sociedades terrenas para a plena vivência da religião universal do Amor e da Fraternidade, cuja maior expressão e exemplificação está na pura doutrina de Jesus de Nazaré:

“Jesus afirmava não ter vindo ao planeta para destruir a Lei, como o Espiritismo, na sua feição de Consolador, não surgiu para eliminar as religiões existentes. O Mestre vinha cumprir os princípios da Lei, como a doutrina consoladora vem para a restauração da Verdade, reconduzindo a esperança aos corações, nesta hora torva do mundo, em que todos os valores morais do orbe periclitam nos seus fundamentos, assaltados pelas doutrinas da violência que embriagam o cérebro da civilização atual, qual veneno amargo a destruir as energias de um corpo envelhecido.

Também o ESPERANTO, amigos, não vem destruir as línguas utilizadas no mundo para o intercâmbio dos pensamentos. A sua missão é superior, é a da união e da fraternidade rumo à unidade universalista. Seus princípios são os da concórdia e seus apóstolos são igualmente companheiros de quantos se sacrificaram pelo ideal divino da solidariedade humana, nessas ou naquelas circunstâncias."


Efetivamente, o Esperanto não é apenas mais uma língua a competir com as demais na moderna Babel, cuja essência ainda guarda os primitivos traços do símbolo bíblico, não obstante as sofisticadas soluções do pragmatismo terreno, de que a expressão máxima é a fascinante rede mundial de computadores. Também ela, apesar dos enfeites tecnológicos, ainda conserva a primitiva carga de orgulho e ambição, manifestada nos anseios de hegemonia de povos ou grupos de povos.

O Esperanto é mais do que isso, não obstante também representar a solução única para as grandes dificuldades materiais suscitadas pelo problema lingüístico. Ele traz em si valores espirituais sobre os quais se erguem as grandes construções da paz, da fraternidade, da justiça no âmbito internacional. Tais valores ele comunica a seus sinceros adeptos, assim fecundando corações para o exercício da vida universalista, em que as diferenças serão encaradas com amor e deixarão de ser motivo para guerras, discriminações, perseguições, genocídios e toda a sinistra coorte gerada pelo conúbio do orgulho e do egoísmo.

Não foi outro o motivo pelo qual a Casa de Ismael, desde 1909, assumiu o compromisso de divulgar e utilizar o Esperanto no desdobramento de seu programa.

________

1. Forma primitiva do Esperanto.

2. “Malamikeco de la nacioj. Falu, falu, jam tempo estas! La tuta homaro em familion unuigi devas”.

3. Rubicão era o antigo nome do rio Fiumicino que corre no norte da itália. Na época da República Romana, ele separava a Itália da Gália Cisalpina. Embora fosse proibido atravessá-lo, Júlio César desobedeceu a lei para marchar sobre Roma (49 ªC.), o que gerou uma guerra civil. Ao atravessar o rio, César teria dito a célebre frase “alea jacta est” (a sorte está lançada). A expressão atravessar o Rubicão serve para mostrar uma decisão audaciosa e definitiva.

4. Hilel era um rabino (70 aC. – 10 d.C.) cujos comentários da Bíblia tinham a mesma doçura e amplitude das doutrinas de Jesus. O hilelismo ainda evidenciava um acentuado desejo de eliminar a discriminação contra os judeus. Zamenhof, após a extraordinária experiência do 1º Congresso Universal de Esperanto (Boulogne-sur-mer, 1905), estende-o, com algumas modificações, à Humanidade inteira, dando-lhe o nome de Homaranismo (da palavra homarano que em Esperanto significa membro da Humanidade).

Fonte: Revista Espírita REFORMADOR, feveriero de 1999
 
 


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